Eu sou esse moleque aí, o da camiseta de gola larga e daquele moletom surrado o qual, como um legado familiar, havia pertencido as duas últimas gerações de irmãos. Sou eu o pivete das havaianas finas e gastas, as quais serviam tanto para os pés quanto para as traves de um campo de futebol improvisado no asfalto. O tempo voou e tanta coisa ficou para trás, eu nem sei se ainda existe algo desse moleque em mim, o fato é que essa imagem é uma verdeira viagem no tempo. Sim, uma baita viagem, pois, ao longo desse tempo, vi os olhares de desconfiança se transformarem em olhares de admiração, mas, claro, com aquela pintada de surpresa e uma bela dose recalque. Como dizem os poetas, "nada como o tempo para dizer quem é quem"... Tempo esse que passou tão rápido que eu nem percebi, ficando apenas a recordação do moleque que fui um dia, sim meu caro, o moleque da camiseta cuja gola era largar, do moletom surrado de gerações passadas e, claro, das havaianas finas.
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Luiz Paulo Miranda