Como alguém que sempre foi tratado como um igual irá entender ou poder julgar aqueles que lutam por igualdade? Sim, vai desde um segurança te seguindo no supermercado a uma entrevista emprego e os olhares atravessados daqueles que deviam te apoiar. Tem a ver com a porta giratória que passam os branquelos, mas que trava para o neguinho e por aí vai... Quem é você para enteder isso? Experimenta pintar essa cara parda de preto e sair por aí, tenta olhar os fatos do lado mais escuro da vida? Essa luta não é social, não mesmo, não enquanto um negro que alçar vôos grandes for tratado como exceção na cadeia alimentar social e for considerado um escravo alforriado. Não enquanto existirem olhares de desconfiança, não enquanto as minha roupas, meu cabelo, meu jeito de andar ou o lugar de onde venho falarem mais que minhas atitudes. Não enquanto o ponto de partida não for o mesmo para todos sempre, independente da cor da pele. Então não julgue, não pense que a consciência negra seja mais um daqueles feriados esquerdista visando o grito de uma minoria, pois não somos minoria. O que mais me chama a atenção é o ar de incômodo de alguns que ousam falar que é algo desnecessário e que o negócio hoje é mais social que "racial". Aí convido esses manos a visitarem todos os ambientes sociais para poder entender que um "negão" sempre será o "negão" independente se no condomínio ou na favela, o que não podemos dizer o mesmo do "brancão". Aliás, alguém já viu algum branco ser chamado de "brancão" ou, melhor que isso, já viram uma mulher branca ser chamada de mula? Sim, olha para esses caras, olha a cor da pele desses deles, olha da onde eles vêm, olha o tanto de privilégios que tiveram. É fácil dizer o que dizem... Claro né, o irmão privilegiado sempre vai dizer que o pai foi justo em seus atos, independente do que tenha feito. Pois é meu irmão, como diz os Racionais MC, difícil estar dois passos a frente se desde de 1888 você começa cem passos atrás... Nós temos que provar dia após dia que somo diferente, que fazemos a diferença e que não vai ter sorriso e olhares de aprovação. Somos nós contra o mundo e contra a burocracia do destino. Em outras palavras, o chicote é sempre mais belo na perspectiva daquele que trás em suas mãos o cabo.
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Luiz Paulo Miranda