A cada dia me distancio mais de mim, do que eu era, de alguém que eu curtia ser, daquilo que amava. Aos poucos, além de distanciar-me de mim mesmo, me torno algo estranho e aleatório, alguém que desconheço completamente e que, definitivamente, eu não sei pra onde vai. Sim, eu não sei mais quem eu sou. Não há propósito, como se fosse cópias e que tudo fosse por impulso... Senão cópia, talvez reflexo daqueles que vieram antes de mim. O fato é que eu não sou mais eu, sou apenas uma cópia, condenado a comer três vez ao dia e cagar umas duas ou três, envelhecer ano após ano, trabalhar, comprar, vender, ganhar e perder dinheiro, talvez casar, criar filhos e depois, há há ha, morrer. Isso mesmo, morrer como um mero coadjuvante, seguindo o bando e cumprindo as ordens. Sim, meu caro, como todas as outras cópias antes de mim. Eu não me reconheço, talvez tenha sofrido atualização ou, sendo mais franco, talvez seja eu apenas um idiota com crise existencial, o qual, muito covarde, se entregar aos versos ao invés dos narcóticos. O louco que um dia fui teria náusea se visse o tamanho da sanidade que tens me acorrentado. Sempre que paro pra pensar nisso ideias malucas me vem a mente, não de puxar o plug da existência e libertar-me de me mesmo, não... Definitivamente não, não seria tão covarde... Me refiro a coisas malucas mesmo, sabe... Tipo o Mufasa encima daquela pedra com o Simba falando do ciclo da vida e coisa e tal, tudo que tinham, que era do bisavô, passou para o avô, que agora era dele e que um dia seria do Simba... Poh mano, ali fica claro a porra toda, sabe tudo que estou dizendo, somos tudo cópia, inclusive, o Simba, a única diferença é que a fórmula social é aquele ciclo maldito que nunca para. Já no nosso caso, é a felicidade... Estamos em constante busca por felicidade, em busca por prazer, por saciar desejos que nunca acabam. É o nosso ciclo, por outro lado, é a saciação de desejos, é uma busca incansável por felicidade e por prazer. Eu que me julgava alheio a tudo isso, não me reconheço mais e me vejo inteiramente domesticado, com uma baita coleira no pescoço, enjaulado e, por mais incrível que pareça, mais um peão nesse nessa porra de tabuleiro.
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Por Luiz
Paulo Miranda
