Do Outro Lado do Rio de Águas Sujas

Todas as noites eu sigo o mesmo itinerário objetivando sempre o mesmo destino, o trabalho... Tomo o mesmo ônibus, com os mesmo cobrador e  motorista, até os passageiros, são os mesmos... Atravesso a mesma ponte sobre o rio de águas sujas rumo ao trabalho. Com o rosto apoiado na superfície fria do vidro de um das janela do ônibus observo a paisagem pouco a pouco se modifica e ir de um cenário sóbrio e deserto à praças de linda iluminações coloridas e lotados de carrões estacionados. Que cenário sóbrio é esse? Logo de cara há uma favela de pouca iluminação, de pessoas mal encaradas e de um forte odor devido um matadouro suíno situado próximo, porém, ao  passar a ponte tudo se transforma, lindos arranha céus começam a surgir no horizonte, esquinas e varandas floridas, ruas desertas, porém, segura devido as frequentes ronda da segurança privada. Duas realidades divididas por um rio de aguas sujas, de um lado o patrão e do outro o funcionário. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe, deixando claro que, mesmos vizinhos, ainda há uma grande distância entre Burgueses e os Plebeus, e, infelizmente, vivemos às margens de suas sombras. "Se algum dia existiu um robin hood, ele também deve ter se corrompido"... Hoje não é diferente do passado, pois para os burgueses dormir sossegados, diverso plebeus devem passa a noite em claro, muitas vezes sujeitando-se a diversos perigos, os quais nem sempre entram na falha de pagamento. Se olharmos na perspectiva histórica, o tempo passa, mas certos hábitos são inerente a pessoa  humana e nunca irão mudar, um deles é a ganancia de fazer do próximo seu escrevo. O dinheiro é e sempre será a melhor arma de  manipulação já inventada pelo homem, o melhor meio de persuasão  e, não exagerando, digo que é o mais perfeito instrumento de escravidão, na qual as correntes são invisíveis e chibatada nenhuma superaria. Há uma música do Racionais MCs, que expressa com clareza a diferença que existem(Da Ponte pra Cá), pois  apesar de sermos iguais perante a lei, tais diferenças se tornam a cada dia maior. Os muros que separam essas duas realidades, apesar de intangíveis e, para alguns invisíveis, aos meus olhos são tão claros quanto a pele da maioria dos habitantes de lá e, numa boa, só não o enxerga quem realmente não quer... Tai a ponte é a única ligação que temos com a outra realidade, tão distinta e preconceituosa, mas que infelizmente, nossa realidade financeira não seria a mesma sem ela...